quinta-feira, 8 de abril de 2010

(Lição 09) Benefícios e desafios da cibercultura




A cibercultura rapidamente altera costumes e estilos de vida do mundo contemporâneo, especialmente no que diz respeito à educação dos jovens. Consultar alguns livros na biblioteca pública é uma atividade praticamente pré-histórica, pois a informação nunca foi tão facilmente encontrada como ocorre através dos sites. A maioria dos adolescentes cresce com um mouse em uma mão, um controle remoto na outra e um monitor à sua frente. Eles estão sempre conectados e ativos no mundo on-line. Para eles a internet é uma fonte primária e imprescindível de informações. Através de e-mails, programas de mensagem instantânea, os estudantes podem compartilhar informações, questões e trabalhos escolares com uma velocidade sem precedentes na história da educação. O professor que quiser se manter atualizado e verdadeiramente se comunicar com seus alunos não poderá limitar-se à sala de aula, mas terá de se colocar disponível através do mundo virtual.

Na internet há também o fenômeno blog (publicações diárias na web). O espaço virtual é agora um condomínio de milhares de blogs. Ao contrário do que muitos pensam, eles não são apenas brincadeiras de adolescentes, mas espaços ocupados seriamente por empresários, jornalistas, doutores, acadêmicos e religiosos que querem “deixar sua mensagem”. Há blogs pessoais, profissionais, culturais, educacionais, fotoblogs e outros. De acordo com um estudioso nesta área, aqueles que querem liderar ou influenciar a cultura deveriam aprender a se beneficiar deste poderoso instrumento de comunicação. Alguns blogs se tornam tão populares que acabam sendo publicados como livros para instruir os poucos que não têm o costume de navegar pela internet.

Outro fator decisivo para a popularidade dos blogs é a facilidade de se confeccioná-los e atualizá-los. E como todos parecem se interessar pela vida ou opiniões uns dos outros, os acessos diários aos blogs tornaram-se o hobbyde muitos. Então, o que antes era confidenciado em conversas telefônicas é agora transmitido a várias pessoas, e o que era registrado em diários e guardado a sete chaves é divulgado indiscriminadamente. No jornalismo, os blogs tornaram-se os meios mais rápidos de informação. Por exemplo, a fonte mais imediata da informação não é a notícia apresentada ou comentada por Ricardo Boechat no telejornal diário que apresenta, mas “oblog do Boechat”, que coloca em tempo real os últimos escândalos do mensalão, as investidas da polícia federal na caça às “sanguessugas”, ou revela a mais recente esposa de um craque de futebol.

Outra novidade muito utilizada na internet é o Orkut, um site destinado a ajudar seus membros a estabelecer novas amizades e a reavivar relacionamentos antigos através de comunidades virtuais. O nome é uma homenagem ao projetista chefe Orkut Büyükkokten, um engenheiro turco do Google, provedor do Orkut. Desde o início o Orkut foi logo abraçado pelos internautas, inclusive crianças (embora para acessar comunidades elas tenham de falsificar a data de nascimento, pois há exigência de uma idade mínima). A princípio, essas páginas não ofereciam grandes dificuldades para serem visitadas ou bisbilhotadas por outras pessoas. Algumas, inclusive, foram utilizadas para propagar a violência, o racismo e até mesmo material pornográfico, que transformaram a vida de algumas pessoas em verdadeiro inferno. Para reduzir os problemas, os criadores do Orkut criaram em abril de 2006 uma ferramenta capaz de permitir que as pessoas rastreiem o perfil daqueles que visitam suas páginas. Funciona como um BINA e pode ser desativada, mas com isso o usuário perde a proteção.

Somente o tempo mostrará a efetividade dessa medida e a habilidade doshackers em neutralizá-la. O fato é que segurança é um assunto controverso em se tratando de internet.

A cibercultura oferece várias vantagens aos usuários e isso justifica a sua popularidade. As ferramentas citadas podem ser utilizadas para desenvolver interações sociais, motivar a leitura e a escrita, bem como abrir possibilidades comerciais para um universo que estava oculto. Todavia, como toda subcultura é essencialmente imprevisível, o universo cibernético também oferece alguns desafios e perigos. Por exemplo, porque os jovens abreviam palavras e inventam novos termos para facilitar a digitação, alguns professores dizem que a geração eletrônica banaliza e mutila a gramática de qualquer idioma, embora existam opiniões de especialistas que contrariam essa previsão. Alguns estudiosos indicam também que muitos adolescentes que não apresentam dificuldades de se comunicar no mundo virtual não conseguem dialogar com seus pais nem com os amigos no mundo real. Por isso, o universo da cibercultura requer uma avaliação mais atenciosa.
Um dos grandes riscos do ciberespaço é a dificuldade de supervisão do mesmo. Muitos que utilizam a internet como um veículo facilitador de relacionamentos podem estar “teclando com o inimigo”. Os diários on-line e as comunidades no Orkut são espaços onde as pessoas expõem seus sentimentos, pensamentos, angústias, informações pessoais, sem ter idéia de quem lerá essas informações. Há ainda o risco de informações familiares e fotos de menores serem intencionalmente corrompidas por pedófilos e outros criminosos. Além disso, cada mensagem transmitida traz não apenas a informação, mas a filosofia daquele que a escreveu. Com isso, muitos jovens podem estar tendo o seu pensamento e valores formatados ou reformulados pela cibercultura.

Grande parte dos riscos do mundo virtual poderia ser minimizada se os pais e educadores estivessem cientes dos perigos que se alojam nesse espaço. Todavia, o diálogo entre pais e filhos ainda parece ser um dos maiores abismos da humanidade: o verdadeiro espaço a ser conquistado. Muitos pais não têm idéia de que seus filhos utilizam a internet como um canal de namoros e relacionamentos afetivos, e quando o coração é derramado pelos dedos é porque a alma está sedenta por atenção e intimidade. Além disso, o tempo gasto diante de uma máquina com a suposta missão de comunicar uma verdade e transmitir uma mensagem para alguém do outro lado pode ser prejudicial ao relacionamento com aqueles que estão ao lado, pois afeta o convívio e o comprometimento real.

Algumas diretrizes devem ser cultivadas no uso da internet, especialmente por aqueles que dizem possuir o temor do Senhor.

Em primeiro lugar, o tempo de uso da internet deveria ser limitado ao essencial. A cultura dos “desocupados” acaba por dar vazão à curiosidade do coração pecaminoso do ser humano. E “as más conversações [mesmo que eletronicamente] corrompem os bons costumes” (1 Co 15.33).

Em segundo lugar, há que se perceber que, para o cristão, a “privacidade é secundária à questão da pureza”. Dessa forma, a tela do computador deveria ser posicionada para o espaço público em vez de para o privado. O pensamento de que o site visitado pode estar disponível aos que estão ao redor pode ser uma âncora benéfica contra a armadilha da impureza (1 Ts 4.3-7).

Em terceiro lugar, é preciso assumir o compromisso sério de não se criar uma identidade irreal na internet. Qualquer falsificação de data de nascimento, nome e características é uma mentira e, consequentemente, contrária aos princípios bíblicos. Também, essa atitude pode esconder sérios problemas pessoais; afinal por que alguém gastaria tanto tempo querendo ser outra pessoa?

Em quarto lugar, não se deve confundir intensidade e intimidade. Há muitos que estão intensamente conectados entre si, mas a intensidade se desvanece quando a novidade se esgota. A intimidade pela qual a alma humana anseia é fruto de um relacionamento real, seguro e definido. Isso não pode ser obtido nem no mundo virtual nem sobre a desconfiança, pois o medo produz tormento “e o que teme não é aperfeiçoado no amor” (1 Jo 4.18).

Finalmente, cada cristão que busca intimidade com Deus deve fazer um pacto sério com os seus olhos para não colocá-los em imagens indevidas e capazes de despertar a cobiça de seu coração (Jó 31.1, Mt 5.28; Tg 1.14-15). Se os olhos são a lâmpada do corpo (Mt 6.22), aquele que quer ser a luz do mundo deve ser zeloso no uso dos olhos.

Valdeci da Silva Santos é pastor da Igreja Evangélica Suíça de São Paulo e professor de teologia pastoral e sistemática no Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper.

Fonte: Revista Ultimato (on-line) - Edição 302 (set/out 2006)
http://www.ultimato.com.br/?pg=show_artigos&artigo=1233&secMestre=1291&sec=1366&num_edicao=302&palavra=cibercultura

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